China vende carros “usados” que nunca rodaram e abala o mercado global
Montadoras chinesas estão burlando regras para vender carros zero como “usados”, gerando distorções nos mercados internacionais e colocando em xeque a confiança global na indústria automotiva da China. Entenda como isso funciona.

O golpe legal dos “usados zero km”
Imagine comprar um carro “usado” importado e descobrir que ele nunca rodou um único quilômetro. Parece bom demais? Não quando você entende o que está por trás disso.
A prática tem ganhado força na China: montadoras estão registrando carros novos como usados apenas para exportá-los e limpar os estoques encalhados, inflando os números de vendas locais no processo.
O que está por trás disso?
- A China enfrenta uma crise de superprodução no setor automotivo.
- Estima-se que a capacidade produtiva esteja ociosa em até 50% em diversas fábricas.
- Com o fim de subsídios e guerras de preços entre montadoras, os estoques cresceram demais.
Como solução, governos locais estão incentivando que veículos novos sejam registrados como usados e exportados, criando a ilusão de que o carro circulou internamente antes de ser vendido ao exterior.
Por que a China faz isso?
Essa manobra resolve vários problemas ao mesmo tempo:
- Conta como “venda” interna para bater metas regionais de crescimento do PIB.
- Evita o acúmulo de carros nas fábricas, liberando espaço físico e financeiro.
- Reduz a pressão política sobre as montadoras locais.
- Gera receita rápida com exportações, com apoio logístico e fiscal dos governos provinciais.
Só em 2024, a China exportou 436 mil carros “usados”, sendo que 90% jamais rodaram nas ruas.
Quem está comprando?
Esses veículos são enviados em massa para:
- Rússia
- Cazaquistão
- Oriente Médio
- Ásia Central
Os preços chegam a ser até 30% mais baixos do que os carros novos de mesma categoria. Em países com pouca fiscalização ou com alta demanda por veículos baratos, a estratégia vem funcionando — ao menos por enquanto.
Mas há um problema…
Especialistas alertam para riscos graves ao consumidor:
- Os carros podem chegar com garantia reduzida, por já estarem registrados como usados.
- Há falta de transparência no histórico de propriedade.
- Marcas chinesas estão perdendo reputação internacional, sendo vistas como pouco confiáveis.
- Alguns países, como a Rússia, já começaram a bloquear essas importações.
Até mesmo a mídia estatal chinesa e CEOs de montadoras como a Great Wall já se manifestaram contra a prática, dizendo que isso “sacrifica o futuro por metas de curto prazo”.
A venda de “usados zero quilômetro” pode parecer uma jogada esperta, mas é um tiro no pé da indústria chinesa. Ao sacrificar a confiança global por estatísticas infladas, o país arrisca perder espaço nos mercados que mais deseja conquistar.
Se você está pensando em comprar um carro chinês importado, verifique o histórico com atenção. Às vezes, o preço baixo pode custar caro lá na frente.