IA detecta arranhão de 2,5 cm e locadora cobra R$ 2,4 mil do cliente, veja como funciona
Uma nova tecnologia de inspeção com inteligência artificial gerou polêmica nos Estados Unidos após um cliente ser cobrado em mais de R$ 2.400 por um arranhão de 2,5 centímetros em um carro alugado.

O caso levanta discussões sobre transparência, ética e o papel da IA no setor de mobilidade.
O que aconteceu?
O episódio ocorreu em Atlanta, nos Estados Unidos, quando um cliente chamado Patrick devolveu um carro alugado em um aeroporto. No momento da devolução, o veículo passou por um sistema de escaneamento automatizado equipado com inteligência artificial, desenvolvido pela startup israelense UVeye.
O sistema detectou um arranhão de aproximadamente 2,5 cm na roda dianteira direita e, imediatamente, uma multa de US$ 440 (cerca de R$ 2.420) foi aplicada ao cliente.
Como a cobrança foi detalhada:
- US$ 250 (~R$ 1.375) para o reparo da roda;
- US$ 125 (~R$ 688) como taxa de processamento;
- US$ 65 (~R$ 358) de taxa administrativa.
Inteligência artificial sem revisão humana
A cobrança foi feita automaticamente pelo aplicativo da locadora, sem que houvesse qualquer contato humano direto. O cliente recebeu fotos e um relatório indicando o dano e foi orientado a pagar o valor dentro de um prazo específico:
- Desconto de R$ 286 se pago em até 2 dias;
- Desconto de R$ 179 se pago em até 7 dias.
Caso contrário, o valor integral seria cobrado no cartão de crédito cadastrado.

Tentativa de contestação
Patrick tentou contestar a cobrança e foi informado de que o único canal possível era o envio de um e-mail, com resposta estimada em até 10 dias úteis — período superior ao prazo dos descontos oferecidos.
Ele questionou a proporcionalidade da multa, afirmando que sequer havia percebido o pequeno dano e que não houve análise humana do caso.
Como funciona o sistema da UVeye
A tecnologia da UVeye já é usada em mais de 100 pontos de atendimento nos Estados Unidos e deve continuar se expandindo. O scanner realiza uma inspeção visual em segundos, registrando imagens do carro em 360° e comparando com o estado inicial do veículo no momento da retirada.
O sistema promete mais transparência, agilidade e rastreabilidade, mas também traz desafios:
- Critérios de cobrança não são claros;
- Não há acesso público à tabela de preços por tipo de dano;
- Contestação limitada;
- Riscos de falhas ou exageros por parte do algoritmo.
IA nas locadoras: avanço ou retrocesso?
A automação da inspeção veicular pode reduzir fraudes e agilizar processos, mas casos como esse acendem um alerta. Especialistas em direito do consumidor e tecnologia questionam a ausência de revisão humana e a dificuldade de diálogo com a empresa.
O uso de IA precisa ser transparente, justo e auditável, especialmente quando envolve penalidades financeiras.
O episódio serve de alerta tanto para consumidores quanto para empresas. Se, por um lado, a IA representa um avanço em eficiência, por outro, o excesso de confiança em decisões automatizadas pode gerar injustiças e desgastes desnecessários.
A tecnologia deve servir ao ser humano e não o contrário.