Argentina enfrenta escassez de placas metálicas e veículos circulam com placas de papel

A crise econômica na Argentina, agravada pelas políticas de austeridade implementadas pelo presidente Javier Milei, está afetando até mesmo os veículos recém-adquiridos no país. Devido à falta de insumos e à reestruturação da Casa da Moeda, milhares de carros novos estão circulando com placas improvisadas de papel, gerando preocupação nacional e internacional.
Cortes de Milei provocam colapso na produção de placas
Desde que assumiu o governo, Milei adotou uma série de cortes de gastos públicos. Um dos alvos foi a Casa de Moneda, órgão responsável pela produção de placas metálicas, que teve cerca de 40% de sua força de trabalho reduzida. Para reduzir os custos, o governo também terceirizou parte da produção para empresas privadas — o que acabou gerando gargalos logísticos e operacionais.
Segundo o portal argentino Chequeado, mais de 655 mil veículos foram registrados com placas de papel desde dezembro de 2023.
Como funcionam as placas provisórias?
A alternativa encontrada foi autorizar o uso de placas de papel impressas, fixadas no para-brisa ou na traseira dos carros. A medida, que deveria ser temporária, acabou se tornando rotina nas ruas argentinas, afetando desde veículos populares até modelos de luxo em bairros nobres de Buenos Aires.
A escassez também impactou a emissão de documentos oficiais dos veículos, dificultando processos como financiamento, transferência e circulação fora do país.
Brasil e países vizinhos liberam circulação de carros com placas de papel
O problema não passou despercebido nas fronteiras. No Brasil, por exemplo, a Senatran autorizou temporariamente a circulação de veículos argentinos com placas de papel, especialmente em áreas de fronteira como Foz do Iguaçu (PR).
A decisão foi tomada em caráter emergencial, mas autoridades brasileiras monitoram a situação, já que as placas de papel dificultam a identificação e aumentam o risco de fraudes.
Repercussão internacional
O caso ganhou destaque na imprensa internacional, incluindo uma reportagem do respeitado jornal britânico Financial Times, que ressaltou o contraste entre a venda de carros de luxo e a precariedade das placas de identificação no país vizinho.
O episódio virou um símbolo da situação fiscal e administrativa da Argentina, revelando os efeitos práticos e visíveis da política de contenção de gastos.
Medidas emergenciais do governo argentino
Para tentar amenizar o impacto, o governo Milei autorizou que os veículos circulem com placas de papel por até 180 dias, enquanto trabalha para restabelecer o fornecimento normal das placas metálicas. Também foram firmados acordos com países vizinhos para reconhecer, por ora, a legalidade da circulação desses veículos.
No entanto, especialistas apontam que a resolução definitiva depende de investimentos estruturais e da normalização da produção interna.
A crise das placas de papel na Argentina escancara os efeitos das medidas de austeridade sobre serviços básicos. Enquanto isso, motoristas convivem com a insegurança de rodar sem a identificação adequada, e a reputação do país sofre mais um abalo perante o mundo.